Japão tentou “exterminar” cobras usando mangustos e acabou piorando a situação

Em 1979, na ilha de Amami Ōshima, localizada na província de Kagoshima, Japão, um plano ecológico mal-executado resultou em um impacto devastador para o ecossistema local. A intenção inicial era erradicar a serpente habu (Trimeresurus flavoviridis), considerada uma ameaça para os habitantes da ilha devido ao seu veneno perigoso.

Para lidar com este problema, as autoridades japonesas introduziram cerca de 30 mangustos, um predador natural de cobras, na esperança de controlar a população da serpente. No entanto, a estratégia teve um efeito contrário, gerando um colossal impacto ecológico que ameaçou diversas espécies endêmicas da região.

O Plano de Erradicação dos Habu

No final dos anos 1970, a descoberta do coelho Amami (Pentalagus furnessi), espécie endêmica da ilha e considerada um “fóssil vivo”, levou as autoridades a agirem para proteger o ambiente natural. A serpente habu, além de ser um perigo para os habitantes, também ameaçava a fauna local.

Introduzir os mangustos parecia a solução perfeita, uma vez que esses mamíferos carnívoros são conhecidos por suas habilidades em caçar cobras. Entretanto, uma questão não foi considerada: os hábitos de atividade dos mangustos e das cobras habu não coincidiam. Isso gerou uma série de problemas no ecossistema da ilha.

Por Que a Estratégia Falhou?

O principal motivo do fracasso do plano foi a diferença nos horários de atividade entre os predadores introduzidos e a serpente habu. Enquanto os mangustos são ativos durante o dia, as cobras habu são noturnas, o que impossibilitou os mangustos de caçá-las eficazmente. Este descompasso temporário resultou na continuidade da ameaça representada pela serpente habu.

Além disso, os mangustos começaram a atacar outras espécies nativas, incluindo o coelho Amami, que não possuía inimigos naturais na ilha. Esta predação inesperada impactou severamente a fauna local, colocando várias espécies endêmicas em risco de extinção.

Como o Japão Tentou Conter os Danos?

Em 1993, diante do impacto negativo provocado pela introdução dos mangustos, o Japão lançou um novo plano para controlar a população destes animais. Foram instaladas armadilhas e uma equipe especializada em captura de mangustos foi mobilizada para atuar na ilha.

A operação de controle de mangustos foi extensa e demorou anos para mostrar resultados efetivos. Finalmente, em abril de 2018, o último mangusto foi capturado, e em setembro do mesmo ano, o Ministério do Meio Ambiente do Japão declarou a erradicação completa dos mangustos não-nativos da Ilha Amami-Oshima.

Quais Lições Foram Aprendidas?

Este evento destacou a importância de um planejamento ecológico bem fundamentado e baseado em estudos detalhados do comportamento das espécies envolvidas. A introdução de uma espécie para controle biológico precisa considerar todos os aspectos ecológicos, incluindo hábitos de vida e impacto potencial em outras espécies.

Atualmente, a experiência vivida na ilha de Amami Ōshima serve como um alerta para outros programas de controle de espécies no mundo inteiro, enfatizando a necessidade de um maior cuidado nas intervenções ambientais.

Resumo dos Principais Pontos:

  • Em 1979, a tentativa de erradicar a serpente habu na ilha de Amami Ōshima através da introdução de mangustos resultou em um enorme impacto ecológico.
  • Os mangustos não conseguiram controlar as cobras habu devido a diferenças nos horários de atividade.
  • Os mangustos começaram a atacar outras espécies nativas, ameaçando especialmente o coelho Amami.
  • Em 1993, o Japão iniciou um plano para controlar a população de mangustos, culminando na erradicação destes em 2018.

A história da ilha de Amami Ōshima é um exemplo forte das consequências que podem surgir da introdução inadequada de predadores em um ecossistema. É essencial que tais decisões sejam cuidadosamente planejadas para preservar a biodiversidade e o equilíbrio ecológico.

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